Lágrimas Sobre Etéria - Capítulo 4 - A Escalada da Redenção - Página - 048
Conhecer o
rei pessoalmente era coisa mais impressionante que aconteceu em nossas vidas
naquela época. Era algo difícil para qualquer um ter uma audiência com o rei e
lá estávamos de frente com ele, que precisava de nossa ajuda para curar uma
doença rara que o impedia de sair em público. O que explicava a vida reclusa
dele. Foi fácil para mim e meu namorado, na época, conseguir curar o rei, que
ficou muito agradecido e deu um lar para gente na cidade próxima ao castelo.
— Vocês continuaram servindo o
rei? — perguntou a Felina, pegando uma fruta e entregando para a Panacea, que
sorriu e começar a descascá-la.
— Eu acabei me casando com o meu
namorado naquela cidade e sim... continuamos servindo o rei, até que... —
Panacea entregou a fruta para a Felina. A dona da cabana ficou tão séria e
pensativa, que a Felina até ficou preocupada. — O rei não era a pessoa bondosa
que achávamos que era. Ele até nos enganou criando clínicas por todo o reino,
que a gente fazia questão de visitá-las uma vez por mês. Só fomos descobrir as
intenções malignas do rei no dia que ele pediu para a gente fazer o impensável;
ele avisou que um nobre pediria para gente curar sua filhinha, mas era para nós
recusar e só aceitar depois que ele mandasse. O rei usaria a doença da filha do
nobre para chantageá-lo, pois o nobre sabia de uma revolta contra o rei e quem
fazia parte dela.
— Você aceitou fazer isso?
— Não queria... Isso ia contra
tudo o que eu passei a vida aprendendo, mas eu era jovem e ambiciosa, por isso,
acabei aceitando, mesmo meu marido não querendo fazer parte de algo tão
terrível. O rei prometeu um reino para gente. Claro que seriamos vassalos do
nosso atual rei. Na época não foi difícil para mim aceitar. Só que as coisas
não ocorreram tão bem assim. — Os olhos da Panacea se encheram de lágrimas. —
Não havia revolta. O rei só queria as terras do nobre, que aceitou os termos
para salvar sua filhinha, mas no dia que fomos curá-la, já era tarde, pois a
doença da garotinha já tinha levado a vida dela. Até hoje me lembro daquele
homem amaldiçoando eu e meu marido.
— Como vocês ficaram por causa
disso? Fico imaginando como viver sendo responsável por algo tão terrível? Algo
assim nem se compara ao que eu já fiz.
— A gente não vive, mas o tempo é
o melhor remédio para diminuir a dor. Eu e meu marido conseguimos nosso reino,
o mais sadio de toda a Etéria. O tempo foi passando e tivemos um filho, que se
tornou nossa alegria. Ainda mantínhamos contato com o rei, que sempre pedia
para deixar nosso filho visitar a filha dele. Praticamente erámos parte da
família real naquela época. Um dia, ao visitarmos o reino para trazer nosso
filho de volta para casa, ficamos assustados, pois uma praga estava se
alastrando por toda parte. O rei se trancava em seu castelo, enquanto as
pessoas morriam. Não sabíamos o motivo dele ter escondido algo tão grave da
gente, até que descobrimos que a praga era a doença que a garotinha que nós não
salvamos tinha. Algo tinha mudado na doença e ela se tornou uma praga mortal.
Agia de forma rápida e não tinha cura. O rei já estava contaminado e não queria
que eu e meu marido se sentíssemos culpados pelo ocorrido... Acho que nos
últimos dias de vida do rei, ele tentou ser uma pessoa bondosa. O pior foi no
dia em que...
— Não precisa continuar — disse a
Felina, ao ver a Panacea aos soluços.
— Eu vou continuar... Faz tempo
que não conto minha história para alguém. Nosso filho acabou contraindo a
praga. Fizemos de tudo para curá-lo, mas não conseguimos... E-ele... m-morreu
em meus braços. — A Felina abaraçou a Panacea para confortá-la. — Desculpe por
isso?
— Não deveria pedir desculpas por
isso. — Os olhos da Felina estavam cheios de lágrimas.
A Panacea se soltou do abraço e
tentou se recompor.
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