Lágrimas Sobre Etéria - Capítulo 4 - A Escalada da Redenção - Página - 046
— Não sei o que eu quero. Só sei
que não quero fazer mais mal para a Adora. Nunca mais... — Felina juntou um
pouco de coragem para continuar: — Mesmo que para isso... eu nunca mais a veja.
— Se você acha que é o certo a se
fazer e é o que quer, eu não posso impedi-la. Bem-vinda ao meu lar. Acho que
vamos viver juntas por um bom tempo.
— Não quero atrapalhar...
— Já viu como é este lugar? Não
tem nada aqui. Vou ficar feliz em conversar com alguém que não seja um
animal... — Panacea fitou a Felina e sorriu. — Pelo menos um animal que
responda.
— Você nunca viu outros iguais a
mim?
— Não. Pelo menos não no reino
que eu vivia...
— Eu também nunca vi outros
iguais a mim.
A Felina ficou um pouco triste ao
se lembrar que é órfã e nunca conheceu seus pais ou outros da sua espécie.
— Vamos trocar suas faixas, e
preciso que você me faça companhia na cozinha. Acho que minha rede já conseguiu
o jantar de hoje.
— Eu vou — disse a Felina,
demonstrando um pouco de empolgação.
Já se havia passado algum tempo desde
que a Felina decidiu viver com a Panacea, algo que era notável pelo jeito mais
a vontade da Felina de se deitar sobre algumas peles na frente da lareira da
cabana da Panacea. A lareira estava acessa, por ser uma noite fria.
— Você vai querer algumas frutas?
— perguntou a Panacea, se aproximando com uma cesta cheia de fruta e uma faca
para descascá-las.
Felina saiu de sua posição, como
se fosse um gato enrolado para dormir, fitou a cesta de frutas e se sentou.
— Sabe que eu nunca dispenso
comida, principalmente se for algo que eu nunca comi na Zona do Medo.
A dona da cabana acabou rindo,
fazendo a Felina sorrir.
— Vejo que sua habilidade com
pesca está melhorando — elogiou a Panacea, se sentando nas peles ao lado da
Felina.
— Logo conseguirei pescar meu
primeiro peixe sem usar as mãos, apesar que é tão mais fácil...
— Por você ser uma Gatinha?
As duas acabaram rindo, mas de
repente a Felina ficou séria e pegou um pedaço da fruta vermelha que a Panacea
tinha acabado de descascar.
— Eu estive pensando... já faz um
tempo que eu estou morando aqui com você. Não que eu ache dormir aqui no chão
ruim, mas eu queria saber se eu poderia construir um quarto aqui na sua casa?
A Panacea ficou com o semblante
sério e comeu um pedaço de fruta antes de responder:
— Não vai ser necessário...
— Como assim?! Pensei que
fossemos amigas?! — Felina ficou muito confusa com a reação da Panacea, até que
ela pensou em algo e propôs: — Já sei! Você poderia me ajudar a construir uma
casa aqui ao seu lado? Seremos vizinhas. O que acha?
— Não vai ser necessário...
— Só vai ficar falando isso?!
Você não me quer como vizinha?
A Panacea sorriu e fitou bem os
olhos da Felina.
— Eu preciso contar algo para
você...
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